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OS TEMAS (NADA) ESCONDIDOS EM "COISA MAIS LINDA": Feminismo, machismo, racismo e muito mais.

Atualizado: 1 de jul. de 2020

Apesar da série brasileira da Netflix, "Coisa Mais Linda" não deixar explícito que a estória demonstra a necessidade do feminismo na vida da mulher, do começo ao fim vemos exemplos da mulher lutando pelos seus direitos.

Foto: Adoro Cinema

Olá meninas! Semana passada fiz uma resenha sobre a primeira temporada de Coisa Mais Linda. Uma série brasileira produzida pela Netflix que está encantando as brasileiras (e gringas) com a história da mulher brasileira nos anos 50 e 60. Nessa resenha, dou a sinopse e deixo minhas expectativas para a segunda temporada, porém prometi analisar os temas presentes no #desconstruindo dessa semana!

Se prepara, porque este vai ser um post longo (e cheio de spoilers!). Depois de ter assistido a segunda temporada, posso trazer para vocês meu parecer de todos episódios e tudo que fui anotando enquanto assistia. Se você já assistiu e não cansou deste enredo, este post é para você. Se você ainda não assistiu mas não liga para spoilers, quer ver mesmo que vai acontecer, esse post também é para você! E se você não assistiu e não pretende assistir, mas quer aprender um pouquinho da importância desta série no feminismo, esse post também é para você.

Lembrando mais uma vez que não farei uma resenha, mas sim uma análise. Terminei a segunda temporada há exatamente 10 minutos e estou cheia de coisa para falar aqui! Como costumo fazer, irei dividir o post em sessões, para aquelas que querem ir na sessão que mais interessa.

O mais absurdo de tudo isso que vou te contar, é que muitos problemas vivemos até hoje! Se você chegar até o final do post, em vários momentos você vai lembrar de algo que ja viveu ou já viu acontecer. Não são temáticas óbvias para todxs, então acho importante detalhar cada uma.

Neste post irei discutir como "Coisa Mais Linda" aborda as seguintes temáticas:


  • Feminismo

  • Machismo

  • Sororidade

  • Feminicídio

  • Racismo/Preconceito Racial

Feminismo

O primeiro tema, o mais óbvio, é o feminismo. Apesar do feminismo ser uma resposta ao machismo, separei uma outra sessão só para explicar o machismo.

Primeiro, você sabe o que é feminismo? Feminismo é a luta pelos direitos iguais entre mulheres e homens. Como diz a própria Tereza, uma das personagens em "Coisa Mais Linda", é uma luta na qual a mulher procura ser vista igual à um homem, nem superior e nem inferior. Inclusive, este é o único momento no qual feminismo é mencionado na série, por uma personagem feminista, claro. Percebi que a série quis ser agradável para todas as mulheres, até mesmo aquelas que dizem não precisar do feminismo. De uma maneira indireta, a série prova que sim, precisamos de feminismo, porém sem parecer uma "lavagem cerebral", como se estivesse explicando o feminismo. Sim, já tive que ouvir um comentário infeliz dizendo que feminismo é lavagem cerebral. Aff. Ao invés de explicá-lo, o roteiro demonstra o machismo, despertando o feminismo na expectadora.

Eu sou feminista, então sou suspeita para dizer, mas em vários momentos eu queria gritar pelas personagens, queria fazer barulho. Queria que elas tivessem os direitos delas, alguns que eu, como mulher no século XXI já tenho e outros que ainda preciso conquistar. Me choquei quando vi que a Maria Luiza não podia abrir seu negócio, porque "mulheres não podem tocar negócios sem autorização de um homem" como disse seu próprio advogado. Então ela forja a assinatura de seu marido, Pedro, e abre o clube no nome dele. Não preciso nem dizer no problema que isso vira pra ela quando ele reaparece na segunda temporada né?

Na série, nosso contato mais próximo com o feminismo é a Tereza, uma personagem à frente de seu tempo, inclusive feminista como mencionei acima. Tereza trabalha, corre atrás de seus sonhos e quando decide ficar em casa para ajudar Nelson com Conceição (filha que Nelson teve com Adélia, mas isso vou explicar melhor na frente), ela se sente aprisionada. Ela diz "eu pensei que podia ser feliz só fazendo vocês felizes, mas não, eu amo o meu trabalho", sabendo que ao escolher seu trabalho, correria o risco de prejudicar seu relacionamento com Nelson, o homem que tanto ama.

Em vários momentos ela demonstra atitudes feministas, não apenas trabalhando e em seu relacionamento. Quando termina com Nelson começa a se relacionar com seu colega de trabalho, deixando claro que ela tem sim direito de "chegar" nele, pois mulheres podem fazer isso tanto quanto homens. Ela também bate de frente com as atitudes de Augusto em relação a Lígia la na primeira temporada, bem antes de ele (spoiler grande) matá-la.

Falando em feminismo, uma personagem que vai crescendo e se inclinando ao feminismo (mesmo sem saber) é a própria Maria Luiza, também conhecida como Malu. Antes de (spoiler grande de novo!!!) levar o tiro, ela já crescia como uma mulher independente. Maria Luiza começa a série como a patricinha paulistana, abandonada e traída pelo seu marido, que não sabe nem fritar um ovo, quem dirá cuidar de um restaurante. Com a ajuda de outras mulheres ela cresce, começa a ter mais coragem e independência. Depois do tiro, tenta reatar com seu marido Pedro pelo bem do filho que eles têm juntos e volta a ser a mulher submissa que era antes. Volta a servir Whisky, algo que ela menciona na primeira temporada como um sinal de submissão ao marido. Até que um dia ela tem uma conversa com Tereza, que lhe diz que "não ha mais perigoso para uma mulher do que comodidade". Malu então decide voltar a sua vida antes do tiro e é neste momento que a personagem começa a ganhar mais voz. Ela percebe que não são os homens que vão lhe dar segurança, mas sim ela mesma. A partir deste momento, ela se torna uma personagem mais interessante e feminista - mesmo que não fale isso.

O feminismo está presente em todas partes desta série, mas a série vai muito além (e afundo). Digo que ela explora temáticas no feminismo que vão além dos direitos da mulher e mais outras temáticas.

Machismo

Falar sobre feminismo não é necessariamente a mesma coisa que falar sobre machismo. O foco do assunto é outro! No feminismo se fala sobre os direitos iguais, no machismo se fala sobre a superioridade (e privilégios) do homem. Por isso resolvi separar os temas.

Vou começar contando os acontecimentos básicos.

Quando o Capitão volta da turnê, depois de um ano fora, ele conversa com Adélia e deixa claro que ficou com várias mulheres neste período, mas dizendo que o que mais importa é quando ele volta e está com ela. Quando ele descobre que a filha que ele achava que era dele com a Adélia, Conceição, é na verdade filha de Nelson, o ex-patrão branco de Adélia, o Capitão fica enlouquecido. Diz que não pode mais confiar em Adélia. Engraçado, porque ela pode confiar nele ficando com outras mulheres, mas não ao contrário.

Não é nenhuma surpresa que irei mencionar a relação do Augusto e da Lígia, certo? Ele quer controlar a vida de sua mulher. Não quer que ela cante pois outros homens podem se apaixonar. Não quer que ela beba muito, pois se exalta e fala alto. Não é só na violência que vemos o machismo! Ao tentar controlar, silenciar, sua mulher, Augusto se torna um homem machista. Mas e mulher? Pode ser machista também? A Lígia era machista por permitir tais coisas?

Não, mulher não pode ser machista, mas ela pode propagar machismo. No caso da Lígia, ela era submissa ao seu marido e obedecia suas ordens. Quando se liberta, é julgada por ele e vários homens do clube que frequentam, mas também por uma personagem que propaga muito machismo: a mãe de Augusto, Dona Eleonora. Ela mesma vulgariza e despreza Lígia, quando a própria decide se tornar cantora e ir contra as vontades do marido. Augusto é apenas um dos casos de machismo na história. Todos homens, em algum momento, propagam machismo. O próprio Nelson, o tão "diferente" marido de Tereza, se revolta ao saber que ela escolhe sua carreira ao invés de cuidar de Conceição. No fim, a mulher é inferior ao homem e o lugar dela é na cozinha... até hoje em dia.

Isso eu acho o mais incrível desta série. Fazem os tempos modernos parecerem tão antiquados. Eu olho e penso, cara, isso tudo é nos anos 60! 60 anos se passaram e tem tanto homem com essa postura, ainda temos muitos casos de feminicídio, diferença salarial, mulheres submissas, homens decidindo leis como aborto... como que ainda existem mulheres que dizem que não precisamos do feminismo?

Mas como estava dizendo, o machismo está em todos momentos da série, tanto entre os homens quanto as mulheres. Porque essa é a realidade. Ele está em todos momentos, até hoje em dia.

Sorordidade

Você sabe o que é sororidade? Ainda farei um post sobre o assunto, mas acho justo mencioná-lo nesta análise da série, porque a sororidade aparece sim. Sororidade se refere à luta contra a rivalidade feminina. Não é passar pano e nem ter amizade com mulheres, é ter compaixão e união, porque sabemos que juntas somos mais fortes.

A série aborda esse tema. Não com muita frequência, mas de uma maneira bem nítida e forte.

Quando Nelson descobre que é pai de Conceição, ele conta para Tereza, sua esposa. Tereza já é amiga de Adélia, a mãe de Conceição. Ela então não briga com Adélia (apesar de sentir aquele nó na garganta), ela tira a satisfação com Nelson. Porque foi ele quem teve o relacionamento com Adélia e com Tereza. Não é fácil para Tereza, mas nem para Adélia. Inclusive, as duas continuam amigas, mesmo sabendo que Nelson cuidaria de Conceição e tiraria sua atenção de Tereza. O momento em que Tereza realmente se chateia é quando Adélia conta que está apaixonada por Nelson e os dois decidem ficar juntos, deixando Tereza de lado. Tereza fica arrasada, normal. Chora, se sente "uma idiota". Fica brava com Adélia sim! Se sente traída sim! Mas não causa um alvoroço. Não coloca a culpa na criança e em ninguém. Isso é sororidade. A própria Adélia entende a imprudência de suas decisões, mas a vida segue.

Outro breve momento de sororidade é bem no final, quando Malu encontra Sarah, a noiva de Chico. Acredite, muitas mulheres chamariam Sarah de cretina, o que seja. Mais Malu culpa o Chico e sua falta de caráter.

Feminicídio

"Se tem uma coisa que o amor não é, é violento. O amor não é morte." Maria Luiza.

Ok, Lígia morre. Feminicídio óbvio. Ela também é estuprada por Augusto (uma cena bem forte por sinal), usada como brinquedo de comemoração depois de ele ter uma reunião de sucesso. Mas o pior de tudo é que mesmo depois de tudo isso, ela não ganha justiça.

Durante o julgamento de Augusto, ele diz que "família é tudo para mim" e "eu atirei no amor da minha vida, por acidente, para defender a honra da minha família". Ele usa amor como a arma que matou Lígia. Ele usa a honra da família como desculpa para tal ato. Engraçado, que essas desculpas são usadas até hoje. O feminicídio acontece até hoje!

O mais triste é que a história se passa em 1960, mas foi só em 2006 que foi decretada a Lei Maria da Penha. Quantas mulheres não morreram? Não foram espancadas? E no final, os homens saíam igual Augusto, com 4 anos de "prisão", em regime aberto. No final da segunda temporada, Augusto se mata (ou tenta pelo menos) e não duvido nada que vai sair por cima disso tudo, como inocente, por ter se matado.

O pior de tudo é pensar que precisamos de uma lei para nos proteger, é um absurdo. Homens tinham que parar de usar amor como desculpa para matar. Homens tinham que parar de matar! Ponto! Este assunto me deixa extremamente nervosa. Não consigo entender porque um homem faria tal coisa. E porque não existe apenas uma lei que defende a todos, uma lei que fato defende todos igualmente. Porque para ser criada uma lei maria da penha, é porque o trabalho não é bem feito como deveria ser, certo?


Não digo que a lei não deveria existir, mas digo que é muito triste um homem precisar de uma lei para não bater em uma mulher.


Enfim, o feminicídio é explícito, principalmente na segunda temporada quando aparecem as consequências da morte de Lígia. Mas, não podemos ignorar um dos assuntos mais importantes da série, o meu próximo tópico: racismo.

Racismo e Preconceito Racial

Antes de começar esta parte do post, queria fazer uma pergunta para as negras/pretas: devo dizer negro ou preto? Recentemente vi um negro pedindo para chama-lo de preto e concordei com os posts, mas queria outras opiniões. Vou escrever negros neste post, pois foi assim que aprendi a minha vida toda, mas se quiserem edito depois para pretos/pretas. Quero saber o que acham.

Aaaaah... se eu pudesse deixava esse tópico para um outro post, porque é longo viu? Assim como o o feminismo. Mas vou manter em um post só, até mesmo pra conseguir abrir mais espaço sobre esse assunto em posts não relacionados à série "Coisa Mais Linda" e dar o lugar de fala para as pessoas certas.

Bom, logo de cara a série já nos mostra o morro, a então "favela" da época. Na verdade é uma comunidade simples, porém bem calorosa. Nela esconde rostos, vidas que sofrem a consequência de uma longa escravidão no país. A escravidão foi embora, mas restou o preconceito. A nossa principal ponte para o tema é Adélia, a sócia de Maria Luiza.

Adélia trabalha para uma senhora. Não pode usar o elevador, tem que subir de escadas, mesmo que esteja cheia de compras. Não pode levar sua filha para o trabalho quando está doente e não tem ninguém para cuidar em seu lugar, ao invés disso é descontada do seu salário e não vai para o trabalho.

Adélia trata Malu com desdém no começo, mas entenda, ela apenas espelha como é tratada. O jeitinho inocente, patricinha e chorona de Malu a incomoda. Como que uma mulher branca e rica está chorando, quanto tantos negros e negras passam fome, passam desrespeito, apenas por serem negros?

São tantas cenas. Quando Lígia vai conhecer o restaurante, pede para Adélia lhe servir uma água, imaginando que Adélia é a empregada de Malu, não sócia.

O relacionamento de Adélia com Nelson? Um absurdo! A mãe de Nelson, Dona Eleonora, não quer saber de sua neta Conceição. A chama de bastarda. Inclusive deixa claro que o motivo pelo qual não aceita é por conta da cor de Adélia. O único momento que Dona Eleonora tem de proximidade é quando da uma boneca (branca) de porcelana para a menina.

Na escolinha Conceição sofre preconceito. Nelson a matricula em uma escola boa, uma das melhores, mas a menina não consegue fazer amigos por conta da cor da sua pele, por não ter ninguém igual a ela. Ela acorda desmotivada para ir para escola. As intenções dos pais era a melhor, para mudar a vida de uma menina negra no Rio de Janeiro, mas percebem que vai ser difícil quando Conceição não consegue ir para o colégio por não ter amigos.

É aquele velho papo da meritocracia. O negro pode até ter a mesma oportunidade, mas ele terá a mesma vivência? Será tratado como igual? O ponto de início é o mesmo?

No elevador, Adélia e Conceição sofrem agressões verbais de seus vizinhos brancos racistas. Na praia também. Inclusive, na praia Adélia é chamada de "essa gente" e é vista como uma parasita do bairro. Absurdo não? Mas o mais absurdo é que, assim como o machismo, atitudes como essas ainda existem e ainda são comuns. Por isso não podem falar "white lives matter too" (vidas brancas também importam). A vida negra não importou por muito, mas muito tempo. Já a vida branca sempre foi um mérito. Nascer branco te deu privilégios.

Por conta deste tipo de comportamento de seus vizinhos e familiares, Nelson decide levar Adélia e Conceição para Paris, no final da segunda temporada. É aí que Malu fala para Adélia "Paris? Você acha que não existe preconceito lá?"

É queridos e queridas, o preconceito está em todo lugar. Por todo esse tempo.

Conclusão

Vou ter que resumir agora em tópicos (ou sub-tópicos) que também aparecem. Como a luta contra objetificação da mulher, na cena em que o Hugo, vereador, tenta chantagear Malu para ir pra cama com ele, se não ele fecha seu club de musica. Ela encontra uma maneira de contornar a situação - só uma mulher que já passou por isso sabe o quão difícil é. Ou no bate papo entre as meninas, quando Tereza fala que "virgindade não é troféu", acho incrível este momento. Também temos a frase icônica que a Conceição solta no jantar em casa "eu nunca vou cozinhar, porque meu marido vai cozinhar pra mim" e todos dão risada. Pois é, as pessoas dão risada de frases como esta até hoje. Ah! Não podemos esquecer do "papel da mãe" na série e em todas as vezes que Malu foi julgada por querer seguir seu sonho.

A série está repleta de mensagens e lições. O que eu acho mais lindo é que tudo é feito com uma sutileza e clareza, um paradoxo, de verdade. Eu fiquei brava, apaixonada, feliz, irritada, ansiosa, estressada, empolgada... um verdadeiro mix de emoções. Mas senti, mais que nunca, que precisamos evoluir. Conquistamos muito já! Mas ainda temos muito a conquistar pela frente.

Só senti falta da homossexualidade. Temos momentos em que Tereza explora relações com mulheres, mas sinto tudo muito raso. Quem sabe na próxima temporada não teremos novos personagens com outras orientações sexuais (e afetivas).

Espero que tenham gostado do post. Agradeço quem tenha chegado até o final! São temas que considerei muito importantes e queria muito compartilhar com a galera que acompanha o blog. Deixem seus comentários sobre o que acharam do post e o que gostariam de acrescentar (temáticas ou exemplos das temáticas que citei). Um abraço para todxs 🖤!


 

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